segunda-feira, junho 08, 2009

Domingo 24 de maio

Vamos para a floresta?




Apesar da agitação da noite por causa da chuva levantamos bem cedo para concluirmos os trabalhos, membros da equipe seriam divididos entre os que iam concluir o banheiro seco e outros que iriam para a mata com a bióloga Veridiana terminar o emplacamento das árvores.
Kamila decidiu ficar e acompanhar as atividades que seriam feitas na comunidade no domingo, eu fui com mais dez pessoas para a floresta, 4 estudantes, 2 biólogos, 3 Pibic e 1 morador chamado por todos de Branco.

Pães, café com leite e suco compunha o lanche que era colocado em uma mochila, pois esse seria o almoço da equipe floresta. Saímos às 8h20 e caminhamos uns cinco minutos até o bote de Branco que nos aguardava na beira do rio.

Nos minutos que levamos de bote para chegar ao local de onde começaríamos a caminhada na floresta, pude observar mais uma vez o quanto o rio estava cheio principalmente no interior do Amazonas, muitas árvores submersas e podíamos quase tocar a copa de algumas com as mãos.

O bote parou em um sítio e iniciamos a caminhada por dentro dele em uma trilha estreita. Por causa da chuva forte da noite anterior a terra estava molhada, as folhas e até os galhos secos bem encharcados, era possível sentir um cheiro forte de verde em todo o lugar. Em alguns trechos a mata era tão fechada que eu não conseguia ver o céu claramente, fomos acompanhados o tempo todo pelo canto de um pássaro chamado pelos moradores de Bico de Aço.

O caminho é decorado pela natureza com samambaias, helicônias e grandes raízes de árvores que cruzavam o caminho de um lado para o outro e tem partes com subidas e decidas. Segundo a bióloga Veridiana a trilha é de terra firme com árvores de até 30 metros de altura e sub- bosque fechado.

De repente o caminho escuro por causa da densa floresta é clareado por causa de uma pequena plantação de mandioca. Após 25 minutos de caminhada entramos em uma pequena trilha na floresta, onde tínhamos que andar com cuidado por causa de muitos espinhos. Logo em seguida chegamos ao local onde estava todo demarcado com fitilhos onde seria concluído o emplacamento que começou na última visita dos pesquisadores ao local.

O emplacamento começa às 9h, a meta de Veridiana era emplacar 500 árvores, mas no final a equipe chegou ao total de 582. O trabalho finalizou as 14h30, o cansaço era visível em todos e retornamos bem na hora de voltarmos à cidade, pois a voadeira estava aguardando a todos.

A noite chega




Casa de farinha







Quando eu e Kamila retornamos da casa de farinha, o relógio marcava 15h30 e a equipe estava a todo vapor no término do banheiro. Entre um intervalo e outro, um cafezinho.


Umas 16h Jhony Abreu responsável pelo trabalho pedagógico desenvolvido com as crianças na comunidade, chega ao barracão com 18 crianças de 3 a 12 anos, todas moradoras de Julião. Menos uma, a Milena, lembram da Milena? A garota falante e esperta que não conseguia memorizar o nome das pessoas por muito tempo? Ela estava no meio das outras crianças participando e interagindo muito bem.

Eram 17h e ainda faziam alguns retoques nas laterais do banheiro seco, com helicônias, arumãs, gergelins e cipó tuíra, mas o restante das obras só seria concluído no dia seguinte, pois já estava escuro e era hora do banho. Os mais corajosos decidiram ir para o rio enquanto outros com receio dos seres Amazônicos, preferiram o banheiro do barracão.

Com muita animação Kamila, Kátia e eu fomos para a cozinha fazer o jantar. Coisa básica, uma macarronada com molho caprichado de alho, sardinha, molho pronto de tomates, seleta e manjericão fresco colhido do horto e servido acompanhado com pão, tudo de bom!

Começamos a armar nossas redes, eu não tinha levado corda e a Kamila não tinha rede, mas seu Francisco nos ajudou e tudo acabou se acertando. Dormimos todos um ao lado do outro como acontece em barcos de linha da nossa região. Apesar de estarmos no meio da mata não vi vestígios de pernilongos, o clima estava quente e só começou a esfriar durante a madrugada. Mas a noite estava apenas começando, enquanto isso uns conversam e brincam, aproveitando que o gerador só é desligado às 23h.

Quando todos deitaram pra dormir eu perdi o sono, passava das 23h quando começou uma chuva repentina com ventos fortes que acordou alguns que tiveram que mudar a rede de lugar por causa da água, Ramon um dos pesquisadores ainda com os pés descalços foi quem socorreu a mulherada. A chuva passou e ficou um silêncio quebrado somente por alguns trovões que se ouvia ao longe dentro da mata. Os relâmpagos clareavam todo o local como um sol gigante!

sexta-feira, junho 05, 2009

Mãos a obra


Pés no barro


Antes de continuar a finalização do banheiro seco, sai um cafezinho fresco com bolachas doces e salgadas. A psicóloga Nilce convoca a todos, moradores, pesquisadores e visitantes a participar de uma dinâmica chamada o Jogo dos Bastões. Após o término da dinâmica, Veridiana solicita ajuda dos voluntários para amassar barro, mistura necessária para finalizar as laterais do banheiro, os trabalhos começam umas 11h, mas é logo interrompida por uma forte chuva.

O volume de água era tão grande que a calha do barracão transbordou, começa a correria para retirar bolsas e malas do chão para que não molhassem. Seu Francisco morador de Julião e coperador do Projeto, prepara rapidamente uma estante improvisada de tábuas para guardar a mochilas. Veridiana não desistia de tentar em baixo de chuva amarrar uma lona para proteger parte do banheiro que ainda não tinha secado. Passada a chuva as obras continuam até as 13h quando vem à primeira pausa para o almoço.

Após o almoço a equipe retorna para a finalização do banheiro, mas eu e Kamila decidimos conhecer uma casa de farinha próxima ao local. No caminho cruzamos com uma garotinha de 4 anos chamada Milena que companhada de sua avó fazia uma caminhada, sua família, todos do Ceará, passavam o final de semana na comunidade. Milena era falante, agitada e cheia de vida, só não conseguia memorizar por muito tempo o nome das pessoas.


Ao chegar à casa de farinha percebi que e faltava uns cinco metros para a água entrar. Nela tinha um forno, um triturador (uma serra), onde é moído a mandioca, uma canôa presa a uma corrente e outros utensilhos, mas o local estava com o aspecto de total abandono.

Barracão e horto

Criatividade!

O terreno onde fica o barracão mede 20x50, e foi doado pelos moradores para o Projeto Plantas Medicinais, desenvolvido por Veridiana e financiado pelo CNPq por dois anos, tempo de duração do Projeto. O barracão é feito de madeira e coberto de telhas de barro, o dormitório é aberto, não tem paredes. A parte fechada do barracão é onde fica uma pequena dispensa onde são guardados equipamentos; pás, facões inchadas, cabos e fios e a cozinha onde contém geladeira, fogão, pia com água da chuva, bastante intensas nessa época do ano no Amazonas, a água é armazenada em uma caixa d'água de 1000 litros.


Lembro da expressão de susto e surpresa da Kamila me perguntando: “Nós vamos dormir nesse barracão aberto?” Mas depois encarou o desafio numa boa, acredito que até gostou.

Na lateral do barracão, ficam os canteiros de germinação das plantas medicinais e na frente o horto plantado pelos pesquisadores com ajuda dos moradores. São diversas plantas entre elas; terramicina, gergelim, andiroba, boldo, cumaru e muitas outras, muito utilizados pelos comunitários no tratamento de doenças comuns no local como a malária, diarréia e ferimentos. Com a chegada dos pesquisadores, começam a chegar os primeiros moradores movimentando o barracão.

Ao chegar no local a bióloga Kátia se dirige logo em direção do canteiro de germinação das sementes e mudas de plantas medicinais, plantadas nas últimas visitas feitas por eles. Os outros seguem em direção ao banheiro seco para concluirem o mais rápido possível.

Chegada


Hora da subida



Desembarcamos exatamente as 9h12. O caminho para o barracão aonde iríamos nos alojar é bem inclinado e de barro, fui logo recepcionada por um pequeno cão filhote, com muita alegria veio me cheirar como se já me conhecesse há muito. A primeira parada é na mercearia do presidente da comunidade, o senhor Almir.


A equipe se dividiu em duas: os que iam cozinhar e os que iriam ajudar na conclusão do sanitário seco iniciado na última visita dos pesquisadores a comunidade. O caminho até o barracão leva uns dez minutos, todo em chão de barro passando em frente às casas dos moradores, todas as casas são de madeira, algumas com varandas, bem pintadas e conservadas, outras completamente abandonadas, já que alguns de seus donos moram na cidade e em Julião.


O local tem luz elétrica através do Projeto Luz Para Todos do Governo Federal. Em contra partida os moradores não têm água encanada. Segundo informações da bióloga Veridiana cerca de 72 famílias residem em Julião. “Apesar desse número nunca vimos todas essas famílias”, afirma.

Saída


Trecho



Saímos do Píer às 8h40, em número de 11 pessoas contando comigo, Kamila e o piloto. Seguiam conosco oito pesquisadores das áreas de biologia, psicologia, pedagogia e biomédica, sendo que no dia seguinte iriam de Manaus para Julião mais dois pesquisadores. Nos afastamos um pouco e paramos para abastecer, mas conforme nos distanciáva-mos da cidade era possível observar em toda a extensão do lado direito do rio Negro a subida das águas.


A voadeira seguia em baixa velocidade e após uns dez minutos subindo o rio, entramos em um canal do rio chamado Furo do Araparí, bastante estreito com árvores em sua maioria submersas, Kamila me chamou a atenção para um detalhe, o que víamos de algumas árvores era apenas a copa delas, quase podíamos tocá-las.

No trecho do Araparí vi sítios, chácaras, uma igreja e algumas áreas de lazer, alguns desses lugares a água tomou conta. Avistei ao longe bem no meio da densa floresta umas árvores que tinham suas copas em cor rosa quase lilás, algo muito lindo de contemplar. O tempo mudou rapidamente de ensolarado para parcialmente nublado, algo comum em nossa região principalmente no inverno. Em alguns trechos, o rio transformava-se em um espelho gigante refletindo a inconstância do clima amazônico.


Após alguns minutos de voadeira entramos em um trecho do rio mais largo chamado Tarumã Mirin, foi quando vi a ponta de um telhado do que antes era uma casa, completamente coberta pelas águas. Em seguida pegamos a esquerda do rio e já entramos no canal do Julião nosso destino final.

Primeira visita a comunidade de Julião


Sábado 23 de maio de 2009



A espera...

Acordei às 6h da manhã para arrumar a mala, pois na noite anterior cheguei bem cansada da faculdade e não organizei nada, Kamila minha parceira de projeto passou pra me pegar as 7h40 com seus pais, fomos em direção ao Píer do Tropical Hotel, lugar marcado para encontrarmos a equipe de biólogos e estudantes que também iriam para a visita rotineira que fazem há mais de um ano na comunidade.


O sábado estava lindo, ensolarado e céu limpo, ao chegar ao Píer pude comprovar o que o noticiário relata todos os dias nos telejornais de Manaus, sobre a subida das águas no Amazonas, realmente o rio está muito cheio. Mas soprava uma brisa fresca e o canto dos passarinhos entre os galhos de árvores do Píer completavam o cenário.
O local estava muito movimentado por turistas e visitantes, barcos e lanchas saindo constantemente para passeios turísticos na região. Eu e Kamila fizemos algumas fotos nossas enquanto aguardávamos o professor Edinaldo Nelson, um dos coordenadores do projeto BioTupé.
Elaboramos ali mesmo algumas perguntas para fazermos sobre o Projeto, alguns minutos depois a bióloga Veridiana Escudeller esposa do professor Nelson, nos ligou sinalizando da voadeira para descemos, fomos informadas que íamos com ela.

quarta-feira, junho 03, 2009

Anjo!















Por Raina Felix



As sombras e a escuridão passam rapidamente diante de ti... Ó doce e suave criança.

Asas te deram... Brilhos, luzes e encantos.
Mas quem te consolará?
Quem secará tuas lágrimas?

A fragilidade te olha e a serenidade acaricia teus cabelos... No bater das tuas asas ouve-se o som de ninar.

Quem ouvirá o som de tua canção?
Ao alçares voou poderás um destino mudar?


Eu posso te responder...sei que posso!
Pois vou me esconder, mas sempre me encontrarás.
Se dormir, tu me acordarás com certeza, sempre faz isso com teu cheiro de meiguice!


Lembrei que posso pular o abismo, afinal tenho asas, posso voar!
Mas percebi que são asas que me levam pra longe... Sempre longe...cada vez mais longe de ti.

Ao fechar os olhos, vejo a luz...
Luz que cobre a mais bela e inocente das criaturas...



O Anjo!